Falhas estruturais na Marquise do Ibirapuera

Uma das fundadoras da Viva Moema, a Claudia Cahali, nossa Diretora de Urbanismo e Meio Ambiente, que também está a frente do Conselho Gestor do Parque do Ibirapuera, contou para nós, abaixo, o contexto e as preocupações entorno da situação atual da Marquise do Parque. Confira.

“Durante o período de em que o Parque Ibirapuera esteve fechado em razão das medidas de isolamento social, conforme informações da administração do parque, os serviços de manejo arbóreo, limpeza e vigilância foram mantidos, ainda que com contingente reduzido de funcionários.

Mas a falta de uso de alguns equipamentos durante mais de 3 meses pode acarretar o mal funcionamento de algumas instalações, o agravamento dos problemas de infiltração, obstrução de ralos, dentre outros.

O Conselho Gestor tem debatido em todas as reuniões os problemas decorrentes da falta de manutenção da marquise com cerca de 28.000m2, que há alguns anos tem diversos trechos interditadas em razão do risco de desabamento do forro ocasionado por problemas na impermeabilização que resultam em vazamentos e infiltração de água.

Nesse período em que o Parque esteve fechado e, portanto, sem a circulação de frequentadores, algumas das obras necessárias e urgentes na marquise poderiam ter sido realizadas. Infelizmente, nada foi feito.

Preocupa-nos o avanço da deterioração das estruturas que compõem a Marquise, comprometendo a integridade da obra do Arquiteto Oscar Niemeyer que integra o conjunto arquitetônico do Parque Ibirapuera tombado pelos órgãos de Proteção e Preservação de Patrimônio em três instâncias (CONPRESP, CONDEPHAAT e IPHAN).

O Conselho Gestor vem questionando reiteradas vezes a falta de providências para solucionar os problemas relatados, falta de plano de manutenção periódica e preventiva e opção por isolar várias áreas da marquise ao invés de providenciar o restauro e as obras emergenciais.

A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, o Ministério Público e a Câmara de Vereadores foram alertados pelo Conselho Gestor continua à incompatibilidade entre o CADERNO DE ENCARGOS DO CONTRATO DE CONCESSÃO e o PLANO DIRETOR DO PARQUE IBIRAPUERA, com relação à MARQUISE.

Conforme o Caderno de Encargos do contrato de Concessão, item 4.7, a CONCESSIONÁRIA deverá realizar “melhorias” na MARQUISE do PARQUE IBIRAPUERA, dentre as quais a impermeabilização da cobertura entre as juntas de dilatação do trecho onde se localiza o antigo restaurante “The Green”; (grifo nosso), o conserto dos pontos de vazamento no restante da cobertura, exceto no trecho sobre o Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM e a colocação de pastilhas em trechos da platibanda; (grifo nosso)

Ainda, no item 4.7,1 do caderno de encargos está expressamente disposto queNÃO SERÁ ENCARGO DA CONCESSIONÁRIA qualquer tipo de reforma estrutural na MARQUISE do PARQUE IBIRAPUERA que se mostre necessária, desde a data da ORDEM DE INÍCIO, para além daquelas já previstas no subitem 4.7”. (grifo nosso)

Considerando o disposto no item 8.1.1:do PLANO DIRETOR DO PARQUE IBIRAPUERA, CADERNO 2, a Marquise passou por uma grande reforma finalizada em 2012, onde foram reparadas partes de cobertura, refeita a impermeabilização e renovado o sistema de iluminação. Em 2017 houve a queda de cerca de 10m2 de seu forro, o que culminou na contratação de um laudo técnico apontando as condições da marquise. Nesse sentido, foram traçadas estratégias junto aos órgãos de patrimônio no sentido de recuperar toda a edificação. Foi decidido que poderiam ser realizadas obras emergenciais nas áreas apontadas com maior risco de queda, deve ser elaborado de um Termo de Referência para contratação de projeto de restauro, contratar o projeto e restaurá-la pensando sua totalidade”. (grifo nosso)

Assim, o Conselho Gestor continua preocupado quanto à incompatibilidade entre o CADERNO DE ENCARGOS DO CONTRATO DE CONCESSÃO e o PLANO DIRETOR DO PARQUE IBIRAPUERA, em relação à MARQUISE.

Nesse sentido, tem questionado veemente quais as providências que serão tomadas de imediato na área da MARQUISE, a qual tem diversas áreas interditadas dado o risco de acidentes.

O prazo que consta no PLANO DIRETOR para obras emergenciais nas áreas de maior risco de queda do forro da MARQUISE é de 3 anos.

O bom senso e as práticas corretas de engenharia e de manutenção de edificações pressupõem que OBRAS EMERGENCIAIS sejam EXECUTADAS IMEDIATAMENTE.

Na última segunda-feira, 06/07, finalmente tivemos acesso ao laudo técnico mencionado no Plano Diretor apontando as condições da marquise e após verificarmos o conteúdo, não temos como deixar de nos manifestar quanto à negligência por parte da administração pública com relação à segurança das pessoas que trabalham e frequentam o Parque Ibirapuera e quanto à integridade do Patrimônio Público.

O laudo de novembro de 2018 é claro: “FORAM CONSTATADAS FISSURAS NA LAJE DE FORRO DA MARQUISE, BAIXO COBRIMENTO E CORROSÃO DE ARMADURAS E DIVERSAS ÁREAS COM INFILTRAÇÃO”.

Na laje superior da Marquise foram encontrados três diferentes tipos de sistema de impermeabilização, soldas e reparos inadequados na impermeabilização, juntas de dilatação executas de forma incorreta, obstrução de ralos, ausência de manta em determinadas áreas, fissuras, corrosão de armaduras, infiltrações de água etc.

O laudo aponta para possíveis “colapsos localizados da laje inferior a qualquer momento e importantes danos na laje superior, agravando a condição de durabilidade. A princípio a segurança da estrutura principal (vigas e pilares) está garantida”.

Assim, continuamos aguardando as providências urgentes para execução das obras na marquise e as explicações da prefeitura a respeito do contrato de concessão não seguir as recomendações técnicas do laudo indicando expressamente que seja feita a recuperação e proteção de forma generalizada, o que somente é possível “COM A DEMOLIÇÃO TOTAL DAS LAJES INFERIORES” e com relação à impermeabilizaçãoNÃO HÁ COMO REALIZAR INTERVENÇÕES LOCALIZADAS DE REPARO, SENDO NECESSÁRIA SUA REMOÇÃO E EXECUÇÃO DE NOVA IMPERMEABILIZAÇÃO”.

A motivação da concessão dos Parques foi a falta de recursos para investimentos e manutenção dos Parques, portanto é inaceitável que a Prefeitura tenha acabado de assinar um contrato de concessão de 35 anos do Parque Ibirapuera e tenha que utilizar recursos orçamentários para restaurar a Marquise.”

Confira a entrevista que saiu na CBN: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/307396/ibirapuera-deve-reabrir-nos-proximos-dias-com-marq.htm